Artista de forte personalidade, Jandyra Waters é daquelas artistas que criaram um estilo marcante, pessoal e identificável. Com mais de 60 anos de atividades o que mais se conhece de seu longo percurso são as obras com geometrias rígidas, formas equilibradas, poucas curvas e cores vibrantes. Por iniciativa do curador e produtor Jairo B. Goldenberg organizou-se este álbum de serigrafias. São seis obras inéditas em edição esmerada. O título faz referencia e é uma homenagem à idade da artista – 101 anos completados neste ano de 2022.

 

Consciente de sua trajetória e destaque no cenário artístico brasileiro Jandyra tem uma inteligência privilegiada. Foi sempre presença interessante e lúdica nos vários encontros que tivemos ao longo de anos. Iniciou seu trabalho na figuração, enveredou para o abstracionismo orgânico em voga nos anos 1960 e, depois, para a geometria mais livre de grandes efeitos e impacto – período em que seus trabalhos integraram Bienais de São Paulo, e em que foi reconhecida amplamente por críticos, instituições e colecionadores. A origem da abstração do século 20 inclui vários movimentos, ou escolas.

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Numa cronologia talvez forçada, já que os movimentos se misturam e fundem, o Suprematismo, a Abstração Geométrica (onde um objeto real passa por um processo cartesiano de geometrização), a Abstração Informal ou Lírica (que consagrou o Tachismo), o Concretismo, especialmente presente no Brasil e uma série de variantes são um resumo de todo esse movimento. Menos conhecida é a Abstração Orgânica (ou Biomórfica), tendência na qual Jandyra teve bons exemplos, mantinha semelhanças com formas e ritmos que se encontram na natureza. É uma pintura que se utiliza de formas curvas irregulares, com volumes abundantes, figuras mais arredondada e geometrias suavizadas, com poucas linhas retas ou ângulos abruptos.

 

Neste contexto a artista, vanguardista para aquele momento, está em excelente companhia, pois entre alguns representantes deste organicismo estão nomes como Joan Miró, Jean Arp, Isamu Nuguchi e Henry Moore. Incentivada e amiga próxima do crítico e colecionador Theón Spanudis, foi admirada por todo o círculo de amigos e colecionadores que se formou em torno deste revisitado homem de cultura, de grande importância para a consolidação de vários nomes de artistas no percurso histórico e
atual da arte brasileira. A partir de determinado momento suas telas se agigantam e o mundo orgânico natural ganhou contornos cada vez mais geometrizados. Essa geometrização se firma, fica mais rígida e vai ganhando tridimensionalidade discreta nos relevos, para depois se transformar por completo em esculturas, com recortes encapsulados em caixas e em “templos”, verdadeiras construções arquitetônicas.
 

A radicalização da geometria chega ao auge, e as obras bidimensionais ganham uma exigência de perfeição, consagrando Jandyra com uma paleta de cores fortes, técnica perfeita, impactante e de forte caráter pessoal. São desta vertente as obras integrantes do presente álbum, que apresenta variantes intrínsecas de cores, e cria um complexo emaranhado de formas, quase se construindo em vitrais contemporâneos.

Antonio Carlos Suster Abdalla