Meu Território
Igor Romualdo
Nos últimos anos o Brasil tem se destacado no cenário de arte internacional, por estar propiciando a artistas de grande valor que estavam àmargem do sistema da arte pudessem ter suas pesquisas acessíveis aopúblico, o que tem resultado em excelentes descobertas.
A exposição “Meu Território” apresentada em São Paulo pelo J.B Goldenberg - Escritório de Arte, é prenúncio de destaque entre tantos jovens artistas de valor em atividade hoje no Brasil. E esta seleção traz ao público o vigoroso trabalho em xilogravura do artista Igor Romualdo, integrante do coletivo Xiloceasa, frequentador do Instituto Acaia desde os seus 8 anos de idade.
Este artista e primoroso desenhista estabelece seu processo criativo sustentado pela
riqueza de detalhes que o suporte da xilogravura, a madeira,oferece.
Sua criação transita pelo registro de elementos da fauna brasileira, e estabelece um diálogo poético entre o desenho esculpido pela goiva na madeira somados aos sinais marcados pelo tempo e pela natureza na formação de seus veios e texturas próprias.
As obras selecionadas propõem personagens diversas da natureza estabelecidas por uma unidade cromática entre o papel e sua fusão com a tinta transferida da matriz em madeira. Esta dimensão é impregnada pelo artista na obra, resultado do jogo sutil entre a razão e a emoção.
Cabe ressaltar que a xilogravura é uma técnica cujo resultado exige do artista a habilidade de transferir sua criação através do entalhe num pedaço de madeira, o que no desenho é estabelecido por diferenças de relevo. Vale ressaltar que o contato entre diversas culturas, como a brasileira e a portuguesa, ocasionou o surgimento da xilogravura popular brasileira. Os portugueses já utilizavam a técnica que, quando
trazida para o Brasil.
Igor é um artista atento ao seu meio, e procura sempre referências espontâneas para suas composições, como as mais recentes, frutos de sua viagem pelos rios do Mato Grosso do Sul. Em seu processo criativo se destaca por desenhar diretamente no suporte sem estudos prévios, que segundo ele demandam um tempo que o bloqueia. Prefere não produzir estudos preliminares, e opta por trazer diretamente de sua memória visual os traços que escava na madeira e que agrupados fazem surgir o que será a matriz da obra.
Não se trata de uma “estética popular”, pois seu trabalho é resultado da observação da vida e da sua continuidade estabelecida através da arte,registrada nas personagens ou nas figuras, cenas simbólicas.
Ora enigmático, ora formal, Igor escava seu território para construir poesia e conduzir de forma pura o observador ao seu mundo imagético. Que generosidade deste artista!
Roberto Bertani